12.11.06

Como são tristes os palhaços...


Um rosto pintado permite o inimaginável:

Parecia uma visão: lá estava ele, sentado em um banco qualquer tão distraído quanto seus fones de ouvido os permitiam, tão perfeitamente distraído quanto os olhos dela jamais avistaram.

Ela senta á seu lado, faz uma brincadeira qualquer. Nada fala, apenas o observa através do personagem que representava atrás de toda a pintura de seu rosto.

Ele sorri. E como é bom vê-lo sorrindo. Diante de todos os sorrisos daquela noite, aquele a instigava...

Levantou-se. Seu personagem precisava sair em busca de outros sorrisos alheios... mas aquele sorriso em especial, a fizera voltar outras e outras vezes, e em cada vez trazia na manga um novo repertório de caras e bocas para o moço do belo sorriso.

Percebeu que quando se afastava, ele a seguia com o olhar...
...Talvez perguntava a si mesmo quem era a pessoa por trás da fantasia...
Vez por outra os olhares se encontravam à distancia. Ela sentiu de súbito um arrepio lhe correr as vértebras.
Ele também o sentiu?
Ela não sabia.
E não iria saber. A oportunidade se perdeu.

O tempo com sua passada rápida e firme ditou a hora da partida. E em silencio ela se vai, deixando para trás um sorriso que demoraria a apagar-se de sua mente – sem nome nem sobrenome, apenas a imagem.

Ela entra em seu camarim à meia luz e vazio. Atrás de si a porta bate. O algodão úmido retira os restos de seu personagem, que ainda escorre pelo ralo da pia.

Como são tristes e solitários os palhaços. Pensa.

E mais uma vez lá está ela: sozinha, cara limpa, imune de personagem – sem máscara, nem proteção – apenas ela e uma lembrança. Sentada no mesmo banco qualquer, distraída ao som da melodia emanada pelos fones de ouvido, á espera de um sorriso em meio a multidão.



Helen Mezoni.
30/09/200601:55 hs.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem tocanti elles x)

gostei do ritmo da história x)

ta escrevendo bem menina... só q imaginei vc falando tudo isso hheheehhe