17.12.06

(re)começo


Pequenas mãos e grandes sonhos.
Em suas costas pequenas carregava o mundo.
Era forte perante toda sua fragilidade.

Caminhava com passos firmes...
Tropeçava.
Reerguia-se.
Continuava.

Nunca completamente sozinha...
Nem tão pouco acompanhada por completo.

Olhos pequenos.
Lagrimas.
Soluço contido entre lagrimas sofridas.
Lagrimas: pequenas gotas de sal. nada mais.

Em seu peito estoura desejo de novas paragens...
Novas façanhas...
Ansiava pelo novo.
Um mundo inteiro lá fora.
Tantos sonhos a sonhar.
Tanto a conhecer.
Tanto a viver.

Nada é pra sempre: nem céu, nem dor.
Sentia-se como um pássaro livre após o cárcere em que fora condenado a cantar sua própria miséria.
Mas para tudo há um ponto final.
Enfim liberdade.

Sonhos grandes em mãos pequenas materializados nas pontas dos dedos, e na supremacia da folha alva...
Sentia-se leve.
Em suas costas um passado deixado no meio do caminho...
Agora, para sempre.

Pra tudo há um fim.
Pra tudo ha um novo começo.
Começa de novo.

Olhos no horizonte.
Atrás de si apenas as marcas do que se foi.

Ela se vai.
Em frente sempre.
Sem mais olhar para trás.

2.12.06

Vivendo de sonho em sonho...

Já se foi o tempo em que era sonhadora romântica; guerreira; doce bailarina; espectadora e personagem. Já se foi o tempo em que tinha a impressão de quase poder tocar o céu com as pontas dos dedos. Agora, só se vê os escombros dos sonhos pelo tablado vazio à meia luz de um lugar qualquer.
Resumiu-se à nada... ou à quase nada. Não importava. Simplesmente resumiu-se, já não era mais inteira: era uma metade de si mesma aterrorizada por fantasmas de seu sonho silencioso e só.
Perdia-se absorta em monólogos intermináveis, agonizando diante de uma platéia vazia, de uma intragável quarta parede fria e distante que ignorava toda a sua entrega passional à beira da insanidade.
Era uma artista. Era. Já não se sentia como antes.
Sempre lutara contra mudanças. Não as suportava. Mas eis uma verdade à qual temos que aprender á encarar: as coisas mudam!... E como são difíceis certas mudanças...
Está presa à frases soltas em um caderno de rascunhos, que mais tarde será atirado à uma caixa de velhas lembranças e terá suas paginas amareladas pelo tempo cruel que também desbotará os sorrisos e as flores impressos na fotografia jogada no porão do esquecimento com os piratas de seu sonho solitário.
O que lhe dilacerava o peito era não saber o que fazer quando já não se reconhece a própria vida, e mesmo assim, saber que o que lhe resta é viver de sonho em sonho e temer o dia em que o sonho terminará.



Helen Mezoni.
Em 23/12/05.
01:23 hs.

24.11.06

Sonho que se sonha só...

Abrir-se-ão as cortinas.
Começará o espetáculo da vida. O espetáculo das vidas. O espetáculo.
Milhões de planos e sonhos projetados em folha e nanquim. Eternizados na fotografia.
Sonhos mútuos. Quase todos.

Abriram-se as cortinas.
Frases. Risos. Musicas.
Sonhos. Sonhos. Mais sonhos.
Vida. Arte.
Devaneio sublime exposto no tablado vazio à meia luz.
Descoberta de novas paragens, novos sons, novos dias. Vida nova.

Fecharam-se as cortinas...
Tira-se do rosto a maquiagem que disfarça o que já não existe.
Na pia, escorre o que restou da luta. Esqueceu-se dos próprios sonhos. Compram-se sonhos prontos.
Percebe-se que toda a vida contida na vontade do momento concreto nada mais foi do que um sonho que se sonha só.
Um sonho que se sonha, só.
Um sonho que se sonha...


(Helen Mezoni – 23:50. 24/11/06 )

“o sonho acabou...” (Beatles)
“nem tudo é pra sempre... e isso eu lamento...” (Aerocirco)

19.11.06


CIA TEATRAL CENECISTA
Apresenta

“vem comigo, no caminho eu te explico...”

Prezados amigos...

A CIA TEATRAL CENECISTA, e a FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU convidam à todos para a apresentação do espetáculo: “Vem comigo,no caminho eu te explico...”, em cartaz no dia 25 de novembro às 20:00 horas, no teatro da Fundação Cultural de Blumenau. Com entrada à R$ 10,00 reais (inteira) e R$ 5,00 reais (meia – idosos e estudantes).

Ficha Técnica:
Elenco: Tuany Martello / Priscila Voigt / Helen Mezoni.
Texto e direção: Helen Mezoni.
Concepção de luz e sonoplastia: João Ramiro.
Duração aproximada: 50 minutos.

Sinopse:
Três mulheres diferentes, três historias diferentes, três visões sobre um assunto as vezes piegas, brega, clichê: Amor.
Relacionamentos frustrados, guerras psíquicas e um único desejo: ser feliz.
Nem tudo é o que parece ser.
Ficou confuso?
Vem comigo, no caminho eu te explico!

A Montagem
“Vem comigo, ...” é um espetáculo cômico que busca valorizar as interações ator - publico, abrindo mão de recursos cenográficos complexos, no intuito de estimular a imaginação de quem o assiste envolvendo-o em sua trama.
Uma divertida reflexão sobre a felicidade, e o que esperamos para alcança-la.

A Cia
A CIA TEATRAL CENECISTA, em atividade há 2 anos, formou-se a partir de curso extra-curricular de teatro ministrado nas dependências do Colégio Cenecista Coronel Benjamim Gallotti – CNEC em Tijucas/SC, tendo ao longo de sua formação apresentado diversas esquetes e performances.
Atualmente vem trabalhando em seu primeiro espetáculo intitulado: “Vem comigo, no caminho eu te explico...” que reúne varias experiências reais e fictícias de relacionamentos aparentemente diferentes, mas com a mesma esperança de tornarem-se concretos.
A Cia tem por meta o desenvolvimento do fazer teatral e a valorização de trabalhos autorais, visando o desenvolvimento do ator em todos os aspectos. Sendo a interação com o publico sua característica principal.

15.11.06

Um amanhecer por entre os dedos...


E uma vez mais encontra-se sentada, em um cais de porto, à espera de um antigo navio...

Em seu peito, saudades ocultas em palavras encarceradas para sempre na oportunidade que se perdeu. Na alma fratura exposta: hemorragia de sentimentos estancados por um pedaço de lembrança. Na mente, devaneios de tardes ociosas, registrados sem folha, nem nanquim: escritos na pele, nos lábios, nos olhos, nos sentidos, imortalizados no desejo do fim da tortuosa espera.

Se faz de conta dentro de seu sonho silencioso: faz-se, fazem-se parte de uma real historia inventada.

Devaneio: simples jogo de ilusão, sonhos, desejos e nada mais.
Triste fim do que já foi feliz começo.
Vaga luz que ilumina seu sorriso desbotado em meio a supremacia do alvorecer.

O tempo escorre pelos frágeis dedos: rápido e cruel, como só o tempo pode ser.
E entre dedos, amanhece.

...

E mais uma vez podemos vê-la sentada em um cais de porto à espera de um navio, que não sabe, mas afundou.



Helen Mezoni
04/09/2006.
01:32 hs.

12.11.06

Como são tristes os palhaços...


Um rosto pintado permite o inimaginável:

Parecia uma visão: lá estava ele, sentado em um banco qualquer tão distraído quanto seus fones de ouvido os permitiam, tão perfeitamente distraído quanto os olhos dela jamais avistaram.

Ela senta á seu lado, faz uma brincadeira qualquer. Nada fala, apenas o observa através do personagem que representava atrás de toda a pintura de seu rosto.

Ele sorri. E como é bom vê-lo sorrindo. Diante de todos os sorrisos daquela noite, aquele a instigava...

Levantou-se. Seu personagem precisava sair em busca de outros sorrisos alheios... mas aquele sorriso em especial, a fizera voltar outras e outras vezes, e em cada vez trazia na manga um novo repertório de caras e bocas para o moço do belo sorriso.

Percebeu que quando se afastava, ele a seguia com o olhar...
...Talvez perguntava a si mesmo quem era a pessoa por trás da fantasia...
Vez por outra os olhares se encontravam à distancia. Ela sentiu de súbito um arrepio lhe correr as vértebras.
Ele também o sentiu?
Ela não sabia.
E não iria saber. A oportunidade se perdeu.

O tempo com sua passada rápida e firme ditou a hora da partida. E em silencio ela se vai, deixando para trás um sorriso que demoraria a apagar-se de sua mente – sem nome nem sobrenome, apenas a imagem.

Ela entra em seu camarim à meia luz e vazio. Atrás de si a porta bate. O algodão úmido retira os restos de seu personagem, que ainda escorre pelo ralo da pia.

Como são tristes e solitários os palhaços. Pensa.

E mais uma vez lá está ela: sozinha, cara limpa, imune de personagem – sem máscara, nem proteção – apenas ela e uma lembrança. Sentada no mesmo banco qualquer, distraída ao som da melodia emanada pelos fones de ouvido, á espera de um sorriso em meio a multidão.



Helen Mezoni.
30/09/200601:55 hs.

5.11.06

Uma estação: Inverno

Era inverno.
Aqueceram-se diante do calor artificial emanado pela maquina à sua frente, cada qual em seu lugar. Distancias amenizadas pela tecnologia entorpecente, alienante, fulgaz e necessária.
Conheceram-se. Conheciam-se.
Um mútuo compartilhar de tristes lembranças.

Foi inverno.
Aqueceram-se frente a frente, diante de sua própria historia vivenciada. Os dedos que outrora corriam o teclado, agora acariciam a esquiva nuca.

Fez-se inverno.
O frio lá fora bate na porta fechada.
Lá dentro, amigos, risos, abraços, carinhos.

Faz frio lá fora.
O vento sopra forte e sem sentido, perdendo-se no mapa, nos (con)fusos horários e entre as folhas do calendário. Fazendo quebrar as ondas na praia, – cemitério de velhos navios afundados – perdida entre os limites do mapa.

Se foi o inverno.
Desligaram-se as máquinas. O calor emanado por ela cessou.
Mudou-se a estação.
Já se pode ver verão despontando no horizonte.


Helen Mezoni
08/10/06
16:52 hs.

2.11.06

Vento

E da escuridão de uma casa assombrada pelos fantasmas de um passado por vezes inacabado, surge uma luz trazida pelo vento vindo de um lugar qualquer, fazendo-se ver o tempo passado, e com ele o que não foi vivido, mostrando que o que parecia perdido na verdade estava guardado em uma caixa trancada à sete medos.

Luz que reluz em pedra bruta, lapidada pelo tempo, pelo vento...

Vento.

Que sopra forte, que acaricia o corpo, penetra os poros e invade instancias esquecidas.
Que inesperadamente embaralha o que parecia certo, trazendo o som suave da tarde que lá fora se põe.
Que como em prece se pede que jamais cesse...
... Mas é vento: tudo derruba e transforma, e passa deixando apenas um rastro de lembrança na casa vazia.

Helen Mezoni.
08/08/2006.

28.10.06

(a)cena

O passado acena.
Sorri inocentemente: Sorriso inebriante, estonteante, entorpecente. Faz com que pareça fugir dos pés o chão. Nos olhos do passado doce lembranças de um amargo destino.

Na cena o transito, os carros, o mundo e tudo o mais contidos em um único gesto.
Grande mundo de caminhos enlaçados que levam sempre a um único lugar.
Ponto de partida.

Caminham por lados opostos. Cada qual.
No retrovisor uma imagem que se fasta lentamente.
Sua imagem é levada para longe: não tão distante quanto os pés não o possam alcançar. Suficientemente distante para que o coração se sinta falho.

No peito há uma caixa de velhas novidades.
Há uma imagem sem presente, nem futuro: fruto de um ontem que não volta mais... um ontem que não volta... um ontem...
Do presente só resta lugares cheios de pessoas vazias a procura de um eterno enquanto dure...
Noite eterna...

A cena.
Fitam-se por segundos enquanto a luz não indica que devam seguir em seu caminho. E assim se vai o passado e com ele o aceno, o sorriso.
Sobram palavras, faltam coragem.
Tanto a dizer, tanto a ouvir, tanto a sentir...
Mas do impulso apenas sobram forças para retribuir o aceno e continuar seu rumo solitário.

( 28/10/06 -19:34)