25.11.12

...

"... Foi quando ele fez um movimento rápido, que me fez ficar aninhada entre seu braço e peito, de forma que ele podia me olhar de cima. Aconcheguei-me na nova posição e encontrei seus olhos.
Havia algo naqueles olhos nus das lentes dos óculos que pareciam lhe compor a face.
Observei por mais um momento aquele olhar, e por um instante me peguei pensando:
"eu gosto disso. eu sinto isso".
Foi então que lhe dei um sorriso em resposta: palavras não cabiam, sentir bastava".

24.11.12

A História de D. Edir e os eternos olhos azuis.

Há não muito tempo atrás, estava na rodoviária de Itapema esperando o ônibus, depois de ter feito uma palestra com alunos de uma escola publica, a convite de uma das professoras. 

Uma senhora sentou do meu lado no banco de espera.

Juntas, começamos a observar um menino de uns 2 anos que corria pela rodoviária atrás de uma bolinha de borracha, que o pai pegara naquelas maquininhas coloridas que ficam perto das lojas de doces. Foi então, que ela passou a me contar dos netos, aos quais ela era contemplada a cada quatro anos.

Lá pelas tantas, ela passou a narrar uma historia que me emocionou muito (acredito que pela forma como ela fez a narração, sem conseguir evitar as lagrimas grossas que brotavam em seus olhos por trás dos velhos óculos de grau), e me fez ficar pensando sobre a mesma durante a minha curta viagem de volta:

Segundo essa senhora, - a essa altura eu já sabia que se chamava dona Edir, gaucha e ex-professora - , dias antes de sua netinha mais nova nascer, seu marido havia sido internado.

O marido de dona Edir, segundo ela, era um homem muito bonito, dono de olhos claros, de um azul puro e expressivo, muito inteligente, pai presente e marido amoroso. Tiveram dessas histórias bonitas de namoro, noivado, casamento. A moda antiga. Juntos cresceram como casal e descobriram o turbilhão de emoções que envolve a paternidade. Do casamento, a única coisa que se entristecia é de que os filhos não herdaram os olhos azuis de seu marido.
Mas esse era um detalhe. Em resumo, eram muito unidos. Mais que casal, eram companheiros um do outro.

A família se dividiu entre a dor e o medo da internação do marido de Dona Edir, e a alegria da chegada eminente da nova membro da família.

A doença avançou rápido, e os médicos não criaram falsas ilusões.
Ele, com medo do que pudesse acontecer, anunciou a esposa e filhos que gostaria que doassem todos os órgãos que fossem possíveis.

O marido de dona Edir morreu 2 dias antes da netinha esperada vir ao mundo. Dos seus órgãos os únicos passiveis de doação foram as córneas. Os tão amados olhos azuis.

Emocionada, dona Edir me conta o fim da história dizendo: “Fiquei um tempo em casa, não queria sair. Mas a vida continuava. E eu sabia que uma hora precisaria sair, eu precisava ir ver a minha neta. Quando cheguei perto do berço, quase perdi o ar: eram azuis... AQUELES olhos azuis”.