28.10.06

(a)cena

O passado acena.
Sorri inocentemente: Sorriso inebriante, estonteante, entorpecente. Faz com que pareça fugir dos pés o chão. Nos olhos do passado doce lembranças de um amargo destino.

Na cena o transito, os carros, o mundo e tudo o mais contidos em um único gesto.
Grande mundo de caminhos enlaçados que levam sempre a um único lugar.
Ponto de partida.

Caminham por lados opostos. Cada qual.
No retrovisor uma imagem que se fasta lentamente.
Sua imagem é levada para longe: não tão distante quanto os pés não o possam alcançar. Suficientemente distante para que o coração se sinta falho.

No peito há uma caixa de velhas novidades.
Há uma imagem sem presente, nem futuro: fruto de um ontem que não volta mais... um ontem que não volta... um ontem...
Do presente só resta lugares cheios de pessoas vazias a procura de um eterno enquanto dure...
Noite eterna...

A cena.
Fitam-se por segundos enquanto a luz não indica que devam seguir em seu caminho. E assim se vai o passado e com ele o aceno, o sorriso.
Sobram palavras, faltam coragem.
Tanto a dizer, tanto a ouvir, tanto a sentir...
Mas do impulso apenas sobram forças para retribuir o aceno e continuar seu rumo solitário.

( 28/10/06 -19:34)